... eu escrevi o post abaixo em outro blog. É comprido mas é bonitinho. No final vou colocar no que deu a história.
"Diário de uma combatente (pra quem gosta de post comprido)
Quinta-feira, 20h32
Já dizia o meu sábio pai: mulher é que nem índio, quando se pinta é porque quer guerra.
Djones em frente ao espelho. Corretivo, sombra, outra sombra, outra sombra, lápis, outro lápis, rímel, outro rímel, pó, blush, gloss. Eu me preparava para a guerra. Papai tem razão.
Uma colega tinha comentado comigo dias atrás sobre o astrologyzone.com, site de horóscopo de uma astróloga parece que famosa. Lá fui eu ler as previsões para janeiro no meu signo. Não que eu acredite piamente nessas coisas, mas sempre é bom dar aquela conferida, mesmo que cinco minutos depois eu já esqueça de tudo o que estava escrito.
Entre muito blá blá blá, dizia e repetia que dia 22 seria um dia especial pra conhecer alguém "if you are single". Dizia que eu tinha que estar "out and about" porque Urano ia entrar na casa de Netuno (ou era ao contrário? Ou era Saturno? Sei lá) e isso era a casa do "true love". Que eu tinha que sair, que as estrelas conspiravam, que os anjos abençoavam, que a umidade do ar seria ideal, que estava tudo ao meu favor pra conhecer alguém bacana.
Lá vou eu/ Lá-vou-eu/Hoje a festa é na avenida, cantava eu com os meus botões - ou seria com o decote? - enquanto me arrumava. Já havia convocado três companheiras de batalha, uma delas já retirada dos fronts por ter um macho pra chamar de seu há anos, mas que de vez em quando nos acompanha pra bater aquele papo amigo e dar risada.
Dia 22. Out and about.
21h27
Chego no primeiro bar, elas já estão lá. Cheio de lugar vazio, como diz uma das combatentes. Um ou outro perdido de camisa e gravata com olhares lascivos na nossa direção, balbuciando "eh garota" quando a gente passava. Comecei a desanimar. Bosta de horóscopo.
22h03
Procurando outro bar nas redondezas, a pé. Uma mesa de gatinhos em um, eeeh brasileras quando passamos. Mas aí a gente faz o quê? Pára na mesa e fala "isso, somos brasileiras, vamos sambar?" Não rola. Mais desânimo. Horóscopo de merda. Me fez gastar maquiagem à toa.
22h15
Decidimos pegar o Djones-móvel e ir a outro bar, onde meses atrás fui roubada, fiquei com um babaca e foi toda uma odisseia (sem acento, seguindo as novas regras de ortografia).
22h30
Chegando ao bar, digo ás companheiras de batalha: haha, imaginem que engraçado se encontro justamente o cara que beijei aquele dia? Pois bem, olho pra frente e quem está lá? O próprio.
Olhei apertando os olhinhos com cara de "te conheço de algum lugar". Ele fez o mesmo. "Vem cá, você não é o fulano?" "Sou sim". "Afe... tchau". E entrei no bar. Não era a isso que o horóscopo se referia, né? Espero.
22h33
Dei aquela olhada ao redor. O radar não apitou. Bar meio vazio. Janeiro em Buenos Aires é complicado, negada viaja de férias. Mas esse horóscopo, hein?
22h51
Vamos para o andar de baixo do bar. Vejo o fulano da outra vez passar, nossa companheira fora de combate elogia os dotes físicos do mancebo. "Bobo mas gato, né? Não pego canhão, baby", respondi.
22h55
"Gente, pelamordeDeus, tem um cara muito gatinho olhando pra mim. Me ajudem, tô com vergonha".
Pois é. Um sorriso. Uma altura - algo raro nesta Guliverlândia que é a Argentina. Uns olhinhos. Sabem quando você olha pra pessoa, a pessoa olha pra você e dá um negocinho por dentro, umas luzinhas piscam, o radar apita freneticamente e não há mais ninguém ao redor a não ser aquele ser sorridente?
Eu olho. Ele olha. Eu olho. Ele olha. Olho. Olha.
23h02
Os amigos do rapaz - eles eram 4, como nós - começam a se mobilizar pra vir falar com a gente.
23h03
Eles chegam. O mais feioso, e portanto o que tem que fazer mais esforço pra ser simpático, chega todo pimpão, perguntando de onde a gente era e toda a patacoada de praxe. Meu rapaz me olhando. Eu olhando pra ele. O feioso advertiu que ele, apesar de todo aquele tamanho, não estava falando muito porque era tímido.
23h04 - 1h00
Ok, pra resumir. Papo vai, papo vem. Eu vou direcionando a atenção pro meu rapaz até que nos deixam sozinhos conversando. Uma das combatentes é cortejada (amei a palavra, nunca tinha usado) por um dos amigos, que aliás é brasileiro de nascença e foi o pretexto pra eles chegarem ni nóis.
Nossa terceira combatente fecha a cara, já que não se interessou por nenhum dos outros dois, que eram o feioso e um sósia de Jesus Cristo. A companheira fora da batalha engata uma animada e desinteressada conversa com os dois desprovidos de harmonia estética, já que não queria pegar ninguém mesmo e eles eram tão bonzinhos.
Meu rapaz tem praticamente a mesma ascêndencia que eu. Rússia, Bulgária, Ucrânia, era tudo URSS mesmo. Por parte de pai. Italiana pela de mãe. Meu rapaz adora idiomas, como eu. Meu rapaz adora viajar, como eu. Meu rapaz adora chocolate. Meu rapaz é tímido. Se ele falasse que era apaixonado por automobilismo, eu começava a cantar caaaarne e uuunha/ aaalma gêmea/ baaate coraçããããão ali mesmo e casava no dia seguinte.
A conversa estava boa, mas era hora de dar tchau, que nem os Teletubbies (lembram? "É hora de dar tchau. TCHAAAAUUU!! com voz bem fininha). Dia seguinte era dia de branco (verdade que essa expressão é racista? Mas como, se eram o escravos negros os que mais trabalhavam?).
A combatente que engatou conversa com o brasileiro estava aos beijos, o que já era um bom resultado. Áquela altura eu estava conversando com todos os outros personagens da história, não só com o meu rapaz.
Todos fomos embora. Na porta do bar, nos despedimos. O brasileiro foi levar a soldado beijoqueira em casa. A da cara fechada pegou um táxi. A fora de batalha ia comigo. Não beijei o meu rapaz, embora a vontade fosse de pular no pescoço dele.
2h30 - 8h15
Sono da beleza.
9h15 - 18h30
trabalhotrabalhotrabalhotrabalho
18h35 - 23h07
Enrolação. Cachorros da vizinha latindo de trilha sonora. Inferno. Pensamento voando. Geeente, adorei aquele rapaz. Mas hoje é nóis de nuevo que é dia de festa, aniversário de um querido colega de trabalho.
23h07 - 24h15 (sexta-feira)
Já dizia o meu sábio pai: mulher é que nem índio, quando se pinta é porque quer guerra.
Djones em frente ao espelho. Corretivo, sombra, outra sombra, outra sombra, lápis, outro lápis, rímel, outro rímel, pó, blush, gloss. Eu me preparava para a guerra. Papai tem razão.
O dia anterior deu resultados que prometiam. Mas nada garantido. Ainda sou brasileira, sou solteira, sou guerreira, quer mais o quê. Se bem que estava sussa, ia pelos amigos mesmo. Juro.
23h45 - 4h30
Aniversário. Abraços. Amigos queridos. Gente que não olha pra sua cara no escritório meio bêbada e contando suas agruras como se fosse pra amiga de infância, pedindo conselho e tudo. Risadas. Fofocas. A gente metendo a boca na namorada do aniversariante, muito da desconjuntada - e é a definição perfeita, des-con-jun-ta-da - , sendo que ele poderia ter coisa melhor como nós bem sabíamos. Fotos. Caretas.
Começam aquelas conversas que a gente só tem com amigos queridos. Um diz que gosta de mulher "pulposa". Eu gosto de caras de ombros largos e queixo quadradinho. Ele diz que mulher que vai com muita sede ao pote na cama, que começa a se mexer que nem uma desesperada quando ainda não é hora, não é legal. Eu conto da pior ficada da minha vida, exemplificando que homem afobado demais tampouco é bom.
Eu penso "poxa... deve ser bom ficar com ele então. E é tão fofo. Pena que é enrolado com alguém.". Mas foi só um pensamento solto. Ele é meu amigo e amigos não têm pinto. Né? É, Djones.
4h35
Garçons passam recolhendo tudo. Mas a conversa estava tão boa. Somos 4, dois rapazes e duas mulheres, uma delas a que vos fala. Mas nada a ver. Somos todos amigos, colegas de trabalho.
Chicos, y si vamos a otro lado? Dale!
4h45 - 5h37
Outro bar. Fechado.
Outro. Miado.
Terceiro, uma baladinha after hours. Ok.
5h42 - 7h17
Chegamos. Sentamos. Um dos rapazes e minha colega vão pegar uma cerveja. Eu fico batendo papo com o outro, o único argentino entre nós. Era o personagem do pensamento solto.
Em certas oportunidades, eu já havia notado que ele ficava me olhando. Eu achava que era coisa da minha cabeça. Eu já tinha ficado vendo fotos dele e pensando "que graça... e tão figurinha... tão divertido... pena que é enrolado com alguém. Fora do baralho."
Então lá estávamos nós, o dia amanhecendo e a gente ali nem sei por quê. Da minha parte, juro que era vontade de conversar, de me divertir, era tão gostoso estar fora do ambiente de trabalho com eles todos.
Mas estávamos só eu e ele.
Até que não sei qual era o assunto e ele diz: por ejemplo, ahora yo te daría un beso. E me agarra.
Viro a cara, digo noooooo!!!
Por qué no?
Porque no! Sos mi amigo!
Y qué? Amigos se pueden besar. Es lindo que la gente se bese! Dale... dale... dale...
Já falei que a palavra "dale" tem poder sobre mim. Quatro dale e eu faço quase qualquer coisa. Dale acompanhado de beijinhos, carinhos e palavrinhas bonitinhas... e o cara é fofo...
Eu me rendo.
Beijo beijo beijo beijo
Sos tan linda, pero tan linda... me contaste que sos insegura, no podés ser insegura... sos muy linda, y te lo digo por muchos argentinos que creen que sos linda *beijo* y por muchos brasileros también *beijo* ah, toda Latinoamérica te ama! *beeeeijo*
Quem resistiria, né? Eu também sou filha de Deus. Dar umas bitocas em um amigo, o que é que tem? Aliás, primeira vez que eu pego alguém do trabalho na vida. Poxa.
8h12 - 14h30 (sábado)
Sono.
Hoje vou sair com o meu rapaz. Que delícia! Ontem ele puxou conversa, nos falamos o dia inteiro pelo MSN. Adoro ele, adoro.
Puts... primeira vez na vida, dois em menos de 24hs. Inédito. O recorde tinha sido um no domingo e um na sexta. Tsunami no sertão, minha gente!! Astrologyzone.com é ciência exata.
22h02
Jááááá dizia o meu sábio pai: mulher é que nem índio, quando se pinta é porque quer guerra.
Djones em frente ao espelho. Corretivo, sombra, outra sombra, outra sombra, lápis, outro lápis, rímel, outro rímel, pó, blush, gloss.
Desta vez não era guerra - e quando eu digo guerra não é nem que saio por aí como franco-atiradora, aliás eu pegar alguém é até um evento raro. É guerra pra ver se acha alguém minimamente decente.
E ele parecia ser muito mais que isso.
23h00
Hola! Qué tal? Bien, vos? Bien! Perdón pero no había mesa mejor... Nooo no te preocupes, está perfecto! Y, qué contás?
23h03 - 2h35
Conversa conversa bebida pizza conversa conversa conversa.
Ele é lindo. Adoro ele.
2h40 - 3h00
Trajeto rumo à casa dele. Na boa. Quer dizer, já estava mais que na hora de rolar bitocas, né. Ai, tô nervosa. Socorro. Adoro ele.
3h00 - 3h57
Conversa conversa conversa
No querés subir a mi departamento, así lo conocés? Ah, no, ya es tarde...
Bueno.
Bueno.
Bueno.
Bueno.
Bueno, sos muy timido...
E meti-lhe um beijo na boca. Orra. Eu também sou tímida, até a hora em que não aguento mais.
3h57 - 5h12
Beijo beijo beijo beijo beijo beijo beijo.
Adoro ele.
5h12 -5h37
Bom, então tá, vou indo porque... (tento ligar o carro. Nada) já é tarde e... (de novo. Nada. Só barulhos estranhos).
Ay ay ay!
Burra. Quem mandou deixar os faróis ligados, e ligar a parte elétrica pra ligar o ar-condicionado. Descarregou a bateria do carro. E agora, quem poderá nos ajudar?
Ligo no serviço 24 horas da garantia. Señora, el auto ya no está en la garantía. Que beleza, minha gente!
Tento de novo ligar. Nada. De novo. Nada. Naaaada!
Vamos pra um posto de gasolina aqui perto ou ver se a oficina que tem na outra rua está aberta. Não deve estar, mas de repente, né.
Adoro ele.
Saímos do carro, um monte de caras que estavam no kiosco (instituição argentina, banquinhas que vendem guloseimas, cigarros, camisinhas, bebidas, etc etc) perguntam se queremos ajuda.
5h44 - 5h49
Djones em pleno San Telmo sentada no seu carro sem bateria sendo empurrado por uns cinco caras, um deles o meu rapaz, coitado. Nada.
Um cara se oferece, assume o banco do motorista - era vizinho do meu rapaz. Segunda tentativa, eu olhando e eles empurrando. Pegou!!!! Bueno, nos despedimos acá. Qué primera cita, eh!
*beijo beijo beijo*
Adoro ele.
6h20
Mensagem: llegaste bien a tu casa?
Adoro ele.
7h30
Vou dormir. Sorrindo. Que fim de semana!!! Nunca na história deste país, como diria nosso presidente, eu tinha reunido tanta história de rapazes pra contar em tão pouco tempo. E nunca na história deste país eu tinha tido um pressentimentinho tão bom em relação a alguém em tão pouco tempo. Ai ai ai... eu mereço, porra! Deus, ou o que quer que haja lá em cima, por favor. Eu já comi o pão que o diabo amassou e o anjo mau da solidão botou no forno. Obrigada pelo fim de semana de fartura. Tsunami no sertão. Mas eu quero alguém minimamente decente. Tá ouvindo? O outro foi coisa de momento, foi chuva de verão, como dizia a canção. Esse, o meu rapaz... parece que... não sei... fica esperto com ele, você aí de cima, tá? Dá uma forcinha aqui pra mim, pode ser? Obrigada.
Será que o horóscopo tinha razão?
Bom, eu vou é dormir que o dia já amanheceu."
Atualizando: desde então, o rapaz é meu namorado. (e a plateia feminina faz OOOOOHHHH de fofura).
A-d-o-r-e-i!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirLila Czar
seviracom30.blogspot.com
oooohhhh!!!
ResponderExcluirvou consultar o tal do horóscopo também, pra ver quando é o meu dia! ;)
Oi Nadja!! Não conhecia seu blog e confesso que estou adorando tudo que li. Com certeza vou visitar sempre! Como uma "quase 30" me reconheço em muitos dos seus textos cheios de senso de humor e muita inteligência. Uma folga dos blogs tontinhos que todo dia só falam do que vestir, do que comprar , do que é cool, it e descolado! rsrsrs Bjosssss
ResponderExcluirhahaha djones, eu sabia da historia de nossa amiga Susan, mas eu nunca tinha lido esse post inteiro! rolei de rir ;-) bj
ResponderExcluirGente, SUSAN SABE! Susan Miller é a astrologa do astrologyzone.com.
ResponderExcluirEu tb adoro essa historia :-)
Paula, quanto tempo! Obrigada e volte sempre! Seu comentario me inspirou a fazer um post com dicas de moda (mas do meu jeitinho!) hahaha
Valeu, Tha!! Beijo!!
Cada parágrafo, uma delícia!
ResponderExcluirAdorei o passo a passo bélico.
Parabéns pelos dois anos!