quinta-feira, 21 de julho de 2011

Rizólis

*mais um continho de ficção*

Agora era pra valer: ela ia emagrecer 12 quilos de qualquer jeito. Pegou a dieta que tinha feito a amiga perder 20 quilos em 3 meses, se matriculou na academia, se encheu de bolo de mousse de chocolate "pra se despedir" e, a partir daquela segunda, era peso novo, vida nova. Dessa vez ela ia conseguir.

No primeiro dia, seguiu o regime à risca. Comeu uma fatia de torrada com queijo branco light e iogurte light no café da manha e ficou pensando como realmente poderia se satisfazer com pouco, como comia mais por gula que por necessidade e como não precisava nem sentir um gosto bom pra comer, já que esse café da manha, por exemplo, não teve gosto de porra nenhuma e mesmo assim ela comeu e ficou sem fome.  Começou bem.  Levou duas barrinhas de cereal ao trabalho, e uma delas foi devidamente comida horas antes do almoço. Hummm, parece isopor com alpiste. Magreza. Depois veio a marmita que ela trouxe de casa, com um peito de frango grelhado, folhas verdes e uma porção de arroz integral do tamanho de um punho (e ela mediu a porção comparando-a com o punho dela, achou pouco e abriu um pouco o punho, mas aí ela pensou que estaria se enganando, voltou a fechar e a medir a porção com a mão bem fechada). De tarde foi a vez do outro pedaço de isopor, digo, da outra barrinha. Depois do trabalho ela foi à academia, onde correu meia hora na esteira e fez mais meia hora de spinning, perdendo assim 467 calorias segundo o medidor. Ao chegar em casa fez um frugal jantar com salada de alface, cenoura, tomate e um pouquinho de atum. Antes de dormir, dois biscoitinhos de água que poderiam ter sido substituídos por papelão, ou pelo menos o gosto seria o mesmo.

No segundo dia também deu tudo certo. Só à tarde ela teve um impulso de ir comprar uma trufa de chocolate com marshmallow na padaria ao lado do escritório, como ela fazia umas duas ou três vezes por semana, mas resistiu bravamente. Magreza.

No terceiro dia ela acordou com um ronco estranho. Olhou pro lado mas lembrou que estava dormindo sozinha. Foi a barriga dela, mas poderia ter sido um dinossauro se ainda houvesse dinossauros nesta Terra. "Não é fome, é meu corpo consumindo a gordura", iludiu-se. Logo depois do almoço, a Vanessa do marketing passou vendendo pães de mel, mas ela fingiu que não viu embora tenha ficado com PÃO DE MEL piscando em letras de neon na cabeça por uns 15 minutos. Foi à academia e, com os exercícios, perdeu 512 calorias e a vontade de viver.

No quarto dia ela já se sentia mais leve. Foi se pesar: 400 gramas a menos. "Cazzo, provavelmente isso é só o cocô que fiz ontem". Foi almoçar no quilo com as colegas e teve que fazer um esforço enorme pra ignorar os pastéizinhos de queijo e o conchiglione de quatro queijos ao sugo. Comeu bastante salada de verdes e salmão grelhado, mas não pôde evitar o olhar babão pro bife à parmegiana com fritas e pros três croquetinhos no prato de uma delas. Da mais magra.

No quinto dia, levou marmita pro trabalho. Beringelas. Pareciam baratas gigantes esmagadas, mas não, beringelas. Huuummm. Quem precisa de pizza quando se tem beringelas? Quem precisa de mousse de chocolate? A moment in your lips, forever on your hips. Não vale a pena. É bom, mas não vale a pena. É maravilhoso, mas não vale. Vale mais entrar nas calças. Né?

Saiu do trabalho e resolveu dar uma volta ali pela avenida, dar uma olhada nas vitirines, ver as roupas que poderia usar quando estivesse mais magra. E nisso estava quando sentiu um cheiro forte de fritura. Daqueles que te fazem ficar cheirando fritura por dias. Nossa, que delícia. Isso é que era comida, não esse mato que andava comendo.

O cheiro vinha de um boteco pequenininho quase na esquina da avenida. Ela foi lá ver, afinal cheiro não engorda, né? Pelo menos o cheiro ela podia sentir sem culpa. "RIZÓLIS CARNE QUEIJO R$2."  Nossa, dois reais. Recém fritinho. Crocante. O coração dela começou a acelerar. Rizólis? Não era risole? Não importa, não posso comer. Água na boca. Centenas de calorias. Mais do que se pode perder em meia hora correndo na esteira feito ratinho de laboratório. Mais água na boca. Fritura barata, cheia de gordura que vai direto tapar suas artérias e se acumular na barriga. Ou seja, deliciosa. Um só, vai. Não. Meio. Não. Unzinho e ela não comeria nada mais até o jantar do dia seguinte, pra compensar. Então ela poderia até comer dois. Não, imagina! Ela já tinha se esforçado tanto, não poderia pôr tudo a perder. Um risole. Não.

Ela não estava aguentando a briga entre o anjinho e o diabinho na consciência. Certeza que o diabo era magro. Um risole. Não. Um rizólis. Não, vai embora logo, sai correndo. Ninguém morre por um risole. Ninguém engorda por um risole. E menos por um rizólis. Um? De queijo ou de carne? Nenhum, alface. Ela começou a chorar. Um. Nenhum. Parem, me deixem em paz! Eu vou embora. Não, fica, come um risolinho. Não. Sim.

Ela entrou correndo no boteco, o que assustou a senhorinha que estava no balcão. Estava chorando. Demorou pra começar a falar. Respirava alto. Apoiou-se no balcão e vomitou as palavras, gritando por entre as lágrimas:    "ME DA UM RIZÓLIS, MOÇA!". E chorava. A senhora, com um certo medo daquela louca: "ééé... queijo ou carne?"

OS DOIS! E NÃO QUERO NEM SABER!

A senhorinha achou melhor nem falar nada. Colocou os risoles num pratinho de plástico, deu a ela junto com o troco e ficou lá olhando a mocinha comendo e chorando. Coitada, vai ver tem algum familiar doente...

7 comentários:

  1. Ai coitada dela!! Mas todo mundo passa por isso, nunca cheguei a chorar, mas a consciência pesa e muito... por isso não adianta se privar de qualquer coisa gostosa por muito tempo, não dá certo! Minha tática é deixar pra comer as coisas deliciosas no fim-de-semana... de segunda a sexta (a sexta à tarde...........) é regime de faquir. Dá pra emagrecer sim!

    ResponderExcluir
  2. Eu amei e ainda li em voz alta alguns trechos para as colegas de trabalho (tipo Silvio Santos.
    Fazer dieta é tããããão chato... Por quê, hein?
    Lila Czar
    seviracom30.blogspot.com

    ResponderExcluir
  3. Dei muitaaaaa risada com seu conto...E confesso que estava torcendo horrores para a coitada da moça resistir. Ou ao menos comer UM rizólis (hahah)...O dê carne, preferencialmente. Mas terminando assim ela se igualou a todas nós, mulheres e mortais que frequentemente se iludem achando que mato é o caminho, a verdade e a vida. Não é... rs.
    PAssa lá no meu cafofo, se quiser. Vou te listar ...Abraço
    www.umaemuitas.blogspot.com

    ResponderExcluir
  4. Fazer regime chega a ser comico e e a certeza da loucura...no primeiro dia vc ja tem a certeza que esta mais magra, no segundo pensa mais em comida do que outra coisa e acaba comendo mais, pois esta focada nisso e no terceiro a culpa e taaaao grande que choramos mesmo...e triste e engracado

    ResponderExcluir
  5. hahaha... ADOOOOORO!!!

    ResponderExcluir
  6. ai, preciso me lembrar de entrar aqui sempre. to me divertindo muito. parece alguém que EU conheço. hj eu vou de tapioca salgada, aliás.

    ResponderExcluir
  7. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, conheci o blog há pouco tempo e estou lendo alguns posts antigos. Mas esse aí kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Parecia eu kkkkkkkkkkkkkkk.

    ResponderExcluir

Desembucha!