Esses dias a Mari Moscou do Melhor de Quatro escreveu um post interessante sobre fidelidade. Eu comentei dizendo que pensava muitas coisas sobre isso e que portanto seria melhor escrever um post que um comentário, então lá vou eu.
Pra mim, eu como pessoa individual a nível de indivíduo pessoal, acho importante sim. Não como imposição, não porque a outra pessoa "pertence" a mim. Mas deveria ser algo natural, de estar tão feliz e satisfeito com o outro que nem precisa botar mais alguém na jogada. Eu acho que, se uma pessoa realmente te preenche - não necessariamente em tudo porque isso é quase impossível, mas o suficiente - nem surge essa necessidade de procurar um terceiro (ou quarto, ou quinto...). Posso estar enganada, quem sabe. Mas na minha cabeça a coisa funciona assim.
Na teoria, acho muito bonito esse discurso mais liberal de ninguém ser de ninguém, que sexo é sexo e amor é amor. Concordo. Desprendimento, desapego. Maravilha. Admiro casais que conseguem isso. Tenho uma conhecida que passou 6 meses na Argentina enquanto o namorado estava na França. Ela teve uns casinhos, ele provavelmente também, mas ela não se importava, dizia que o amor deles era mais forte que isso. Bacana. Eu não sou tão mudérna e evoluída. Comigo não, violão.
Se ambas as partes estão de acordo em relação a sair com outras pessoas, ok. Não é traição, afinal ninguém está descumprindo nenhum compromisso. Acho difícil fazer isso sem se ferir em algum momento, mas como diz a sabedoria popular, passarinho que come pedra sabe o cu que tem. Mas se um casal tem um relacionamento e não se discute nada sobre o tema parte-se do pressuposto de que o negócio é ele e ela (ou ela e ela, ou ele e ele, enfim). E só.
A Mari diz que "não somos naturalmente monogâmicos mas sim por uma convenção social nos forçamos a oprimir desejos, vontades e até mesmo fantasias...". Até aí, não somos naturalmente educados, nem andamos vestidos naturalmente, nem vamos ao supermercado como parte da nossa natureza. Naturalmente somos bichos como um tigre ou um gorila, com um cérebro um pouco melhor. Convenções sociais são necessárias para uma convivência harmoniosa em sociedade. Claro que essa harmonia total é utópica. Mas o que eu digo é: também são convenções sociais usar roupas, dizer por favor e obrigado, respeitar o vizinho, não matar, não roubar, não fazer cocô no meio da rua. "Oprimir" - prefiro "controlar" - desejos, vontades e fantasias faz parte da vida. Até necessidades fisiológicas temos que controlar! Todos esses "controles" são parte das nossas escolhas, parte do que temos que fazer para bens maiores: a convivência, as relações saudáveis, o respeito pelo próximo, o compromisso.
Claro que quem tá namorando, noivo, casado ou tico-tico no fubá, como diria o Silvio Santos, não deixa de olhar pra outras pessoas e até sentir desejo por elas. "Tô casado mas não tô morto", "não é porque tô de dieta que não posso olhar o menu". Daí a concretizar o impulso... ás vezes a gente tem vontade de comer algo que não deve e não come, de comprar algo nada a ver e não compramos, até um pensamentinho de matar alguém e não matamos. Será tão difícil não ficar com alguém em nome de algo maior que um simples desejo? Tá, momentos de fraqueza ou de crise existem, errar é humano, mas se se pode evitar, melhor, né?
Volto ao "sexo é uma coisa, amor é outra". Desconfio de relações "só sexo". Em algum momento vai dar merda pra um dos dois, porque o problema é que pessoas não são máquinas. Pessoas não são um pipi ou um popô (haha). Pessoas são pessoas. Com cabeça, coração, alma, história. E quando você transa com alguém, isso tudo tá lá, quer queira ou quer não. Ok, na hora ali do vuco-vuco é aquela coisa, mas e depois? Sempre tem um depois. Ás vezes um depois insignificante, ás vezes um depois maior. Mas ele vai estar lá.
Hoje em dia tudo parece tão fácil. Ah, você não quer? Não gosta? Não é como eu quero que seja? Tem outro. Outras. Tá todo mundo facinho, pra quê vou me contentar com uma pessoa só? Putaria tá na moda, swing tá em todas as revistas femininas, tudo é festa. As pessoas querem tudo ao mesmo tempo agora: querem ter alguém lá, um amorzinho seguro, esperando bonitinho, mas também querem altas aventuras sexuais. O melhor dos dois mundos. Mas ninguém fala dos efeitos colaterais de toda essa balbúrdia (haha, desenterrei a palavra). E ninguém quer renunciar a nada, só que a gente tem que fazer renúncias sim se quiser conseguir algo, o que quer que seja.
A Mari conclui dizendo que "A partir do momento em que ele diz, em se tratando do senso-comum, que quer que o outro indivíduo seja "namorado", ele na verdade quer dizer que quer que o outro indivíduo assuma um compromisso não só com a pessoa (pois este já existe) mas com a FIDELIDADE. Como ninguém é dono de ninguém, é óbvio que isto simplesmente não funciona. Quer dizer, nunca dá certo mudar um relacionamento por algo que você quer que o outro faça (em oposição a algo que você quer fazer)." Hummm...
Eu não acho que os relacionamentos não dão certo por causa da fidelidade. Acho que falta amor, tolerância, paciência, consideração, respeito ao próximo. Sobra individualismo, egoísmo, hedonismo, carpe diem, tudo é aqui e agora. Não importa o que o meu parceiro pode chegar a sentir se souber que eu disse que vou fazer compras com a Maria, mas na verdade vou é dar pro João. O que importa é que eu tenho vontade de dar pro João porque ele tem uma barriga tanquinho. Será que tá certo isso?
Também não acho que fidelidade esteja tão ligada à propiedade como ela diz. Realmente ninguém é dono de ninguém. A gente não pode controlar o outro e nem deve tentar, isso só faz mal. Mas ambos os envolvidos em uma relação mais séria podem muito bem ser fiéis por livre e espontânea vontade. E a coisa pode dar certo ou não, mas não necessariamente por causa da suposta "pressão" de se manter fiel.
Além disso, uma relação não deveria ser uma prisão sufocante, da qual a gente tem que sair de vez em quando ficando com outra pessoa. Um relacionamento tem que ser algo que faça bem, que faça os dois crescerem, que faça a gente ficar levinho e sorridente quando pensa na pessoa querida. Que faça os dois construírem algo, mesmo que depois tudo acabe. E se pra que tudo isso aconteça os dois acham necessário ser fiel... ótimo! Que isso seja respeitado então.
Todo mundo tem direito de fazer o que quiser com a própria vida, desde que não prejudique ninguém. Quer dar pra todo mundo? Quer passar o rodo na mulherada? Vai lá, seja feliz. Mas não deixe um(a) babaca te esperando achando que sua boquinha é só dele(a). Se achar alguém que tope um relacionamente aberto, beleza. Se não, fica solteiro e soltinho na marola, sem trair, nem machucar ninguém. É melhor pra todo mundo, né?
Hurray! Adorei o texto!!! :D
ResponderExcluirComments, agora, hehe:
"Mas ninguém fala dos efeitos colaterais de toda essa balbúrdia (haha, desenterrei a palavra)."
Tá bom, quais os efeitos então? Não entendi o que vc quis dizer.
"Um relacionamento tem que ser algo que faça bem, que faça os dois crescerem, que faça a gente ficar levinho e sorridente quando pensa na pessoa querida. Que faça os dois construírem algo, mesmo que depois tudo acabe. E se pra que tudo isso aconteça os dois acham necessário ser fiel... ótimo!"
E se pra que tudo isso aconteça seja necessário ter mais de uma pessoa em seu coração? Ficar com mais de uma pessoa não quer dizer ser "uma máquina" necessariamente ou ter relações exclusivamente sexuais. Porque, como vc mesma tbm disse, nós estabelecemos relações e pronto. (mas, de fato, temos que saber o cú que temos, haha, adorei)
"Mas deveria ser algo natural, de estar tão feliz e satisfeito com o outro que nem precisa botar mais alguém na jogada."
SIM! Justamente! Mas se você está feliz SENDO fiel e sente que não precisa de outras pessoas, isso não implica que seu outro esteja sentindo tudo do mesmo jeito. O que eu disse que estraga os relacionamentos não é a difelidade, mas justamente impor a SUA fidelidade ao outro/a!
Uhu! O debate continua! :D
Mari, pra mim os "efeitos colaterais" é gente se machucando à toa, gente se forçando a fazer coisa que não quer pra agradar o outro, gente fazendo o que quer sem pensar nos outros.
ResponderExcluirSe tiver mais de uma pessoa no coração, seja feliz! Só abra o jogo pra todos os envolvidos. Não sou contra isso, só não funciona pra mim, pra minha vidinha. E sou contra mentir e trair pra se satisfazer, só isso. Era esse o ponto de vista que queria deixar claro no post.
"Mas se você está feliz SENDO fiel e sente que não precisa de outras pessoas, isso não implica que seu outro esteja sentindo tudo do mesmo jeito. O que eu disse que estraga os relacionamentos não é a fidelidade, mas justamente impor a SUA fidelidade ao outro/a!" Concordo. Se você está com alguém, é fiel e acha que o outro não necessariamente tem que ser, ótimo! Mas que isso fique claro então, porque se não o outro vai sim estar mentindo e traindo.
Realmente não dá pra impor a sua fidelidade ao outro, mas se pra você a fidelidade é importante pra ambas as partes, melhor não encarar uma relação com alguém que você sabe que não quer ser fiel, né? E se isso não é importante, beleza! Seja feliz!
Mas volto a dizer, eu acho que a promessa de fidelidade ainda está implícita em uma relação, a não ser que se discuta e se decida o contrário. É algo tácito, mas tá lá. Não é imposição!
Menina, quantos blogs vc tem?? hahaha
Beijos
Ta aí... gostei
ResponderExcluirNoooossa!!! Adorei o texto!! Penso exatamente igual a vc! Tb acho que as pessoas querem tudo ao mesmo tempo, aqui e agora. Ninguém sabe mais cultivar... às vezes até amizades... Tá todo mundo muito preocupado consigo mesmo pra pensar no outro. Entrei aqui meio que de para-quedas e adorei!
ResponderExcluirDébora