sexta-feira, 6 de maio de 2011

Essa nossa mania de agradar - Parte 2

Continuação do post anterior:

Ele se afastou um pouco dela, sem soltá-la. Olhou-a com cara de problema e ia dizer algo, mas desistiu. Voltou a abraçá-la e a beijá-la mas os beijos se tornaram mais superficiais, mais pausados, sem vontade de existir. Até que ele parou, olhou-a de novo, tomou fôlego e, segurando nos braços dela, disse com o máximo de jeitinho que podia:

- Amor, você jura que não fica brava se eu te disser algo?

Ela se desanimou. Sabia que quando ele dizia isso é porque ela estava prestes a ficar brava com o que ele ia falar. Mas ela sempre respondia que não, não ia ficar brava, e desta vez não foi diferente.

- Tá tudo bacana, e tal... mas esse creme, perfume ou sei lá o que que você passou é muito... é meio... é um pouquinho enjoativo, sabe?

Ela começou a se cheirar. Os pulsos, os braços. Ela gostava do cheiro! Não conseguiu falar nada antes de ele continuar:

- Você não quer tomar um banhinho rápido e depois a gente continua?

Banhinho rápido??

Ela ficou brava, sim. Muito. Possessa. Na hora se afastou dele num gesto dramático e começou a gritar, vomitando as palavras:

- Banhinho rápido?? Eu me preparei toda só pra você, gastei 200 reais numa lingerie verde-água, mais depilação, unhas, passei horas me arrumando só pra te agradar e você vem com frescurite, me pedindo pra ir tomar banho como se eu fosse uma suja qualquer?

Ela tinha horror à sujeira.

- Nem pra falar que tô bonita, nem pra me agradecer, nem pra ser MACHO e me pegar de jeito, NADA! É isso que eu mereço??? Eu fiz tudo pra te agradar, eu faço sempre de tudo pra te agradar, e é isso que eu recebo em troca?"

Ela já estava chorando. Ele, tentando apaziguar a situação:

- Mas não precisava ter feito nada disso... eu não te pedi nada, né, amor?

Aí que a coisa degringolou.

- Pedir, Marco Antônio?? Pedir??? Que que é, eu tenho cara de garçom agora, pra você ter que ficar me pedindo coisa??? Tem coisa que a gente não pede porque não precisa pedir, sabe, Marco Antônio? A gente pode agradar o outro porque quer, porque é bom, e não porque o outro pediu, sabia??? Eu queria te agradar porque você é meu namorado, porra, não porque você pediu ou não pediu!!

Ele tentou falar, mas ela não deixou.

- Quer saber? É melhor você ir embora, Marco Antônio. Não tem mais clima, já era. Vai embora e depois a gente se fala. Mas olha, eu juro, nunca mais vou fazer nada pra só pra te agradar, NADA! Tá ouvindo? Não vai adiantar nem pedir!

Ele sabia que, nessas horas, era melhor não falar nada e obedecer antes que a emenda ficasse pior que o soneto. Foi embora, cabisbaixo.

Ela tirou a lingerie verde-água e jogou- a num canto do quarto, com raiva. Botou um camisolão da Hello Kitty todo desbotado e furado que ela tinha desde os 14 anos. Tirou o pouco de maquiagem que as lágrimas não tinham tirado, se jogou na cama e ficou fazendo zapping mesmo sem prestar a menor atenção no que passava na TV. Apesar da raiva, pegou no sono.

Só voltaram a se encontrar no sábado porque eles tinham que ir ao aniversário da Mari, namorada do melhor amigo do Marco Antônio, num barzinho. Nos dias anteriores ele ligou pra ela, todo florido, e ela seca. No começo ela agia assim por estar brava com ele, depois a raiva foi passando mas ela continuou seca só pra ele ver o que é bom pra tosse. Quando se viram ele veio todo sorridente, falando tudo como se estivesse pedindo desculpas, tratando-a melhor que de costume. E ela se fazendo de difícil.

No bar, os homens foram pra um lado da mesa e as mulheres, para o outro. Ela não tinha muita intimidade com as outras moças e nem fazia tanta questão de se misturar. Estava era tentando prestar atenção no que os rapazes conversavam, disfarçadamente. Ela adorava fazer isso.

Não conseguia acompanhar tudo, mesmo porque as moças não paravam de tagarelar. Só escutava umas frases soltas, palavras meio fora de contexto. Até que ouviu o Marco Antônio, já meio alegrinho depois do quinto chopp:

- E digo mais! Lingerie de mulher tem que ser preta ou branca, no máximo vermelha. O resto é pra estilista viado ver, não pra macho curtir!

Ela lembrou da lingerie verde-água. 200 reais pra ele nem gostar. Por isso a cara de "que surpresa agradável, mas nem tanto".  Não era só o cheiro, ele foi só a gota d`agua. Preta ou branca, no máximo vermelha.

"Puts", ela pensou, "pior que lingerie não dá nem pra trocar..."

5 comentários:

  1. djones, o melhor do seu caso de ficção é que eu tenho CERTEZA que pelo menos metade das suas leitoras já passaram por algo semelhante.... tristeza... aprovado!!! =)

    ResponderExcluir
  2. Tô passando mal de rir agora pela coincidência: neste exato momento, debaixo da minha blusa PRETA existe um sutiã VERDE ÁGUA. Eu acho lindo e o namorado tb adora (mas acho q é mais por causa do tchan que ele dá ao conteúdo haha).
    Pois eu diria ao Marco Antonio que macho mesmo não tá nem aí pra cor de lingerie. E para a protagonista q namorado , sim, dá pra trocar hahaha :o)

    ResponderExcluir
  3. Ou a historia é baseada em fatos reais, né? Digamos apenas que eu tenho uma lingerie verde-agua... hahaha

    ResponderExcluir
  4. hahahaha
    Adorei! Eu sempre fui contra langerie colorida. As minhas sao preta ou branca. Mas isso eh um gosto pessoal, nao tem nada a ver com namorado... hahaha
    Engracado como a gente fica vulneravel, ne??? Adorei o texto!

    ResponderExcluir
  5. Amei... rsrs... queremos ler cenas do proximo capitulo!

    ResponderExcluir

Desembucha!