O moço de camisa estranha chega pra ela na balada e diz:
- Sabe o que eu tenho aqui no meu bolso?
Ela achou a pergunta tão descabida que nem parou pra pensar em tudo o que ele poderia ter no bolso e muito menos em por que diabos um homem perguntaria isso a uma mulher em uma discoteca. Só conseguiu responder "ai, o quê?" E ele, fazendo uma voz de comediante dos anos 50 e tirando uma carta de baralho do bolso:
- Um coringa!
Não deu nem dois meses e já estavam morando juntos. Ela achou o máximo essa originalidade dele, esse senso de humor, esse frescor. Ela dizia pras amigas "foi uma abordagem inédita!" e morria de rir. Ele era o que ela nem sabia que estava procurando. Alguém capaz de surpreender, de fazer o inusitado. A vida dela não era fácil, ela precisava de alguém assim, que a fizesse esquecer dos problemas.
Viveu seis meses feliz com o seu piadista, se orgulhava de estar com "um cara super alto astral, sabe? Alegre!" Tinha feito a escolha certa.
Até que um dia ele lançou a do "é pavê ou pacomê?" no jantar de Natal na casa da Tia Eunice.
E depois teve a vez que ela estava com o cabelo meio armado (umidade, sabe como é) e ele disse "morzão, o que você passou no cabelo?"
- Nada, ué!
- Pois devia ter passado um pente!
E começou a gargalhar. Depois dessa ela demorou mais de um mês pra conseguir transar com ele de novo.
E teve o churrasco de aniversário do irmão dela, onde ele ficou horas chamando de "bambi" o sobrinho são-paulino dela de 6 anos. "Por que bambi, papai?"
E depois ele repassou um powerpoint com classificações de peido pra todos os contatos de e-mail dele. Incluindo ela, amigos do casal, parentes.
Mas o negócio degringolou quando, durante um jantar gourmet que ela estava preparando para alguns casais amigos, ele disse pra Gisela, moça finíssima que trabalhava com ela e que vestia uma belíssima blusa de seda com babados:
- Ô GiselE! GiselE! A sua blusa, ó, aqui no pescoço, tá tudo babado!
E começou a gargalhar. Ninguém mais riu e logo voltaram a comentar a crise do bloco europeu, enquanto ele tentava interromper dizendo "babado, de baba e da roupa, entenderam? Hein?"
No dia seguinte ela se mudou de volta pra casa da mãe. A velha sofria de artrose, bursite, gota, obesidade mórbida, pressão alta e psoríase. Ah, e depressão crônica. Morava com um gato preto manco de 16 anos em uma casa caindo aos pedaços num bairro decadente da cidade.
- Mas pelo menos ela não faz piadinha imbecil. Alto astral, o cacete. A vida é uma merda mesmo.
Haha, adooorrro esses contos!
ResponderExcluirLila Czar
seviracom30.blogspot.com
Brincadeira...tem hora, né?!
ResponderExcluirBjs
obrigada, Lila!! Mas sei la se o povo curte, sra que devo continuar escrevendo eles?
ResponderExcluirTem hora sim, sra. Betty, a.k.a mamae! hahaha
beijos
Oi! Continua a escrever sim, são engraçados :)
ResponderExcluirMuito bom! Vc é uma contista. Continue.
ResponderExcluirObrigada, meninas!! Fabiana, seu comentario me fez ganhar o dia. Obrigada!! beijos
ResponderExcluirConta sim Nadja, adoro esses posts! :)
ResponderExcluirMas jura que não deu pra ela notar como ele é babaca só com o approach do coringa?? Aff