sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Estabilidade?

Tenho percebido que um desejo comum na turminha de (quase) 30 é a estabilidade. Comprar uma casa - a.k.a "ter um lugar pra cair morto", um relacionamento estável - a.k.a "alguém pra chamar de seu" - e ter uma boa posição profissional - a.k.a ganhar pelo menos o suficiente pra viver direitinho.

Mas é aí que eu pergunto: o que é a tal "estabilidade" exatamente? A casa pode se tornar uma grande dor de cabeça em vez de um prazer, caso você se divorcie ou seja transferido pra outro país. É um patrimônio, mas o que garante que você não vai ter que vendê-la pra pagar dívidas, por exemplo? Sabe o "amor da sua vida", aquele na frente do qual você já anda de moletom velho e creme na cara e acha que já sabe todos os pormenores dele? Pois ele pode te meter um belo par de chifres daqui uns anos com a secretária gostosa, ou vocês podem se cansar um do outro tão profundamente que nem dá mais pra conviver. A grande empresa na qual você trabalha hoje pode falir amanhã. Podem descobrir umas maracutaias terríveis, pode vir uma crise daquelas brabas, pode ser que ano que vem você chegue a conclusão de que na verdade você será mais feliz se for vender colarzinho de semente de açaí numa praia na Paraíba e peça demissão.

Nunca se sabe. Nada neste mundo é garantido. Nada.

Outra questão é o preço que estamos dispostos a pagar por essa suposta estabilidade. A casa pode ser uma na qual você não se sinta bem mas é sua, é a que você pôde pagar. Sua, apesar de você estar devendo até as carça por causa dela. O maridão ou a digníssima esposa podem ser um saco, podem não te atrair mais, você pode até não amá-los mais, mas estão com você há tanto tempo que dá do de jogar fora, como aquela calça na que você já não entra mais há anos ou aquele vaso que você nem lembra mais que está na estante. O trabalho pode te impedir de realizar seus verdadeiros sonhos, mas pelo menos paga todo mês sem falta e te permite viver medianamente bem.

Vale a pena tudo isso? Vale a pena se conformar com o "mais ou menos" só pra se sentir mais seguro? Vale a pena fazer de tudo pra conseguir essa tal estabilidade, que na verdade nunca é completa e garantida?

Tudo muda, tudo passa. Não adianta. Acho que, na verdade, a estabilidade é quase como a felicidade: estamos sempre perseguindo mas ela nunca esta inteirinha na nossa mão. O ideal seria a gente aprender a viver bem apesar disso...

3 comentários:

  1. Arrasou, Nadja, como sempre, no texto!

    A mais pura verdade: 30 é a década da "busca pela estabilidade": financeira, amorosa, profissional... Nossa, então depois dos 30 a vida vai virar um tédio total, porque tudo vai estar "estável"... Argh! Pra mim, não!!!

    Fora meu emprego, que é chatinho, mas paga bem minhas contas, eu tô vivendo muito bem e feliz!! E será que o preço de trabalhar numa coisa que eu adoraria, mas ganhando pouco, também não é muito alto pra uma balzaca consumista como eu? ... Vai saber!

    Lila Czar
    http://seviracom30.blogspot.com

    PS: Come silício!!!!!!!!!!!!!!!!!

    ResponderExcluir
  2. Concordo plenamente. As pessoas estão sempre com medo e deixam de viver um monte de coisas para não arriscar perder essas "riquezas" que conquistaram. E a essência da vida vai pelo ralo da pia Deca de R$700, pelo escapamento do carro de R$100.000 e pelo cabo da TV com 70 canais no televisor tela não sei o quê digital.

    ResponderExcluir
  3. Verdade, eu estou com 27 e já noto minhas amigas e amigos de mesma ou mais idade se preocupando mais com terminar logo a faculdade, conseguir um emprego melhor, comprar carro e abandonar a moto, comprar casa, casar, ficar noivo ou pelo menos começar um relacionamento mais sério.
    Mas acho que já melhoramos, antigamente as pessoas faziam tudo isso na faixa dos 18-20-22. Os trinta são os novos vinte.

    ResponderExcluir

Desembucha!