segunda-feira, 23 de maio de 2011

Semana da ficção - Post 1 - Ternura

*nota da redatora: resolvi que esta semana vai ser dedicada a posts de ficção, ou seja, pequenos continhos saídos diretamente da minha cabeça. Espero que gostem!"*

"Veja bem...". Ela odiava quando ele dizia "veja bem". Por acaso ela não via bem? Só ele via bem? Ela via muito bem, obrigada. Via até mais longe que ele. Ela tinha vontade de morrer quando ele dizia isso. Morrer não, matar. Matá-lo.

"Veja bem, Gi-ulia..." Que Gi-ulia, mané Gi-ulia. Ela odiava quando ele dava essa italianada inútil no nome dela. E ainda separava as sílabas, "Gi-ulia". Que vontade de arrancar a língua dele com a mão, só pra ele nunca mais poder falar "Gi-ulia" pra ela. Era Júlia, porra. Júlia.

"Você não entendeu bem o que eu quis dizer." Não, não entendeu. Ela nunca entendia. Além de cega era burra também. Não é ele que não sabe se expressar, ela é que é burra. Bem que ela poderia fazer uma lobotomia nele, mas sem anestesia e com instrumentos caseiros. Só pra ele deixar de achar que ela era burra. Ele também deixaria de achar qualquer outra coisa, o que seria um belo bônus.

"Quando eu disse que não queria que você saísse com as suas amigas naquele dia, eu..." Tá, tá bom. Ele nunca estava errado. Sempre tem uma explicação pra tudo. Ela que não entendia e estava sempre errada, afinal era cega e burra. E se ela empurrasse ele da varanda? "Foi suicídio, gente, estou muito abalada e não posso falar mais nada". E se ela desse uns tiros nele e dissesse que foi um assalto? "Foi horrível, eles foram muito cruéis". Mas onde ela ia arrumar uma arma?

Ele continuava falando mas ela nem escutava mais, perdida que estava em suas doces divagações. Por que ela ainda estava com ele? Anos e anos com aquele chato. Se pelo menos ele fosse bonito. Se pelo menos fosse bom de cama. Se pelo menos fosse rico. Mas não. Nada. Ele só era chato. Insuportável. E por que ela não o largava? Era medo de não encontrar outro? Era costume? Chato. Se ele sumisse, os problemas dela estariam resolvidos. Ou se ela o fizesse sumir, quem sabe. Não seria tão difícil. Quem desconfiaria daquela moça sempre arrumada, sempre impecável, séria, trabalhadora?

Se bem que... coitado. Ele era chato mas era bonzinho até. Era um moço direito, a mãe dela gostava tanto dele. Os avós. Ele era chato mas era dela, né? Hoje em dia tá complicado conseguir alguém. Ela penou pra consegui-lo. Os homens não prestam. E ele nem era tão feio assim. As orelhinhas de abano dele eram tão bonitinhas. Tão magrinho ele, parecia que ia quebrar. Até que ele era fofo. De vez em quando. Ela é que era má, pensando essas besteiras. Tadinho.

2 comentários:

  1. pode ser ficção mas não tá nem um pouco longe da realidade! deus!!! (rs)

    ResponderExcluir
  2. Pois ééé! Quem nunca pensou em matar o namorado? hahahaha Beijos

    ResponderExcluir

Desembucha!